O que pede o meu estomago
Gostava mesmo de poder ser muito “chique”, muito “bem”, muito “VIP”, muito tudo, mas não sou. Sou um vulgar popular, apesar de gostar de frequentar os hotéis “Pestana” qualquer coisa (nome que se apensa ao nome) e ir consumir uma refeição a um restaurante gourmet com nome inglês para poder estar “in”.
Frequento esses locais para poder olhar para os outros com um olhar sobranceiro como fazem os “habitués”. Apesar de ser popularucho sou uma pessoa muito bem, muito “hight society” mas não tenho paciência, nem quero ser conhecido por ir todos os dias a um qualquer restaurante by “Olivier” para me servirem um “brunch”, refeição, muito “british”, que combina o pequeno almoço, no Brasil conhecido por café da manhã e na Inglaterra por breakfast, e um lunch conhecido por almoço. Estão a ver, isto é que é internacionalização.
Para esta vida de luxo dinheiro não me falta. Não, não recebo puto pelos cliques na publicidade neste site, nem pelos meus conselhos gastronómicos, nem sobre as modas disto e daquilo. Acham que alguém me pagaria por publicidade depois de dizer estas coisas? Está-se mesmo a ver que não!
A propósito de gastronomia: gosto de cozinhar e faço-o com grande prazer. Sei que há por aí muitos(as) de vocês que não gostam nem têm aptidão para os tachos e que só gostam de comer fora em locais onde o gourmet impera e que dizem à saída: «Que bom que estava. E que bem confecionado! Não achas Pipa?!».
Eu prefiro os tachos e gosto de ser eu a comprar e a cozinhar para poder experimentar. Escuso até de utilizar a metáfora das viagens gastronómicas para dizer que estive aqui e ali nos restaurantes muito da moda. As minhas viagens neste campo é andar pela minha cozinha e pelo supermercado do El Corte Inglês que tem produtos de qualidade. Esta do “El Corte Inglês” aqui metida é para ver se eles depois me convidam para os publicitar a troco de um jantar no “Gourmet Experince”. Escusam de clicar por que não fiz nenhum link para lá.
Quando saio para comer fora não é para olhar para a estética do prato que parece uma obra de arte, como observou uma vez a Tininha quando a fui levar a casa após sair de um desses restaurantes onde pedimos um aconselhado menu de degustação. Disse-me ela, quando passámos por uma cervejaria, depois da parca e austera refeição que esteticamente lhe encheu os olhos: «Olha, e se fossemos ali comer qualquer coisa!». Não nos chamem nomes como o fez aquele senhor lá da Holanda quando disse que nós, os portugueses, só queremos copos e mulheres. Engana-se, também gostamos de comer bem e muito. A qualidade para aqui não interessa.
Os meus cozinhados têm três componentes a estética, a qualidade e a quantidade e isto não é a quadratura do círculo. Já uma vez me convidaram para entrar no negócio da restauração. Isso é que era bom, como dizia o outro. Não quis, isso é um trabalho de escravo que dizem já não existir. A menos que tenha um convite para me auto publicitar num qualquer programa culinário de um canal de televisão para fazer o que outros já cozinharam apenas mudando um ou dois ingredientes. Isto de inventar na cozinha não é como inventar uma qualquer inovação que tenha utilidade na vida das pessoas. Na arte culinária mesmo que seja esteticamente um espanto depois de degustar a coisa termina sempre no mesmo sítio.
Veio-me agora à ideia as dietas para emagrecimento e o nutricionismo. Não há melhor para ficar na “linha” do que ir a um desses restaurantes cinco estrelas e, melhor ainda, se tiver estrelas Michelin. Experimentem ir todos os dias durante quinze dias almoçar e jantar a um deles, mas sem incluir vinho nem doces na sobremesa e vão ver logo como fica a vossa silhueta. Ficarão mais magros(as) juntamente com a vossa carteira, mas conseguiram atingir o vosso objetivo, o dono e o “chef” do restaurante também…
Gostava de escrever este blog apenas para alguns e algumas que adoram que se fale de coisas “chiquérrimas”, quer de moda, quer de viagens, quer do que a hotéis e restaurantes diz respeito para os(as) deixar embasbacados (as) com o que se escrevesse nesse adorável e doce blog pleno de coisas boas e perfeitas. O meu blog é, em termos metafóricos, uma espécie de cão rafeiro (com todo carinho pelos rafeiros) contrariamente aos blogs de pura raça que nos mimam com ternuras, conselhos e outras coisas boas e onde escrevem sobre tudo, ou quase tudo, o que fazem, para onde viajam, sobre o que pensam, sobre o que são, sobre o amor da sua vida, mas sobre o que não são já não dizem… O meu blog é mais azedo, mais ácido, mais amargo, mas sem amargura. De qualquer modo, como a concorrência é saudável, um dos próximos dias também vou fazer o mesmo, escrever sobre outras banalidades que não estas. Posso escrever sobre tudo o que sei, menos sobre costura, para isso já me basta aquele horrível programa de domingo da RTP1 “Cosido à Mão”.
Voltando à gastronomia, vocês devem pensar que «Este tipo só pensa em comer!». É verdade! E sabem porquê? Porque gostava de ser um crítico da gastronomia. Isso é que era fartar vilanagem, pagavam-me para comer aqui e ali. Quando leio críticas gastronómicas fico pasmado e cheio de inveja, coisa típica dos portugueses e portuguesas. Os críticos de restaurantes de gastronomia comem tudo o que vêm na ementa o que me leva a pensar que esses ou essas que andam por aí de restaurante em restaurante devem ganhar bem para poderem pagar as contas, ou será que os convidam e lhes oferecem as refeições para dizem que é tudo ótimo, até o atendimento? Alguns e algumas, até dizem que o atendimento e a simpatia são excessivos porque lhes perguntam muitas vezes se está tudo bem. Se fosse eu até aproveitava para lhes dizer que havia ali uma coisita que estava mal, talvez a conta. Em alguns casos até dá direito a cocktails e dizem quanto custou e se for uma fortuna convém dizer que foi em conta. Isto do ser em conta tem o que se lhe diga, porque o que é para eles, ou elas, em conta pode não o ser para mim. Isto de gastronomia fina não é para todos. Mas quem disse? Para mim é, pois então!
Causa-me espanto como é que essas ou esses críticos sabem que tudo o que está na ementa é bom e é recomendável, que se esbate quando leio as críticas de especialistas em gastronomia como a seguinte baseada na ementa que me leva a concluir que muito deve comer quem faz críticas de gastronomia em restaurantes.
Um determinado crítico foi apreciar a comida apresentada na ementa de um restaurante, a entrada era um misto de azeitonas temperadas, chouriça, farinheira, melão com presunto, pasta de camarão, queijo de cabra e queijo amanteigado. A seguir o polvo à lagareiro com a mestria da chefe, que diz ele ser de tenrura estaladiça e sabor delicado, para o saber só comendo; depois, o bacalhau com broa na telha, com boa posta, bom “crumble” de broa com azeite, bela apresentação e ótimo sabor, para o dizer é porque o comeu ou provou. A seguir veio a dourada e o robalo desespinhados e braseados, só os lombos com um fio de azeite e flor de sal, aqui fico na dúvida se chegou a provar; diz o autor que depois vieram os secretos de porco preto no estendal, com apresentação e sabor notáveis, a carne presa com molas, o molho harmonizado com redução de laranja, aqui não há dúvida se deu pelo sabor notável pelo que terá sido deglutido; o rosbife com crocante de massa filo (queijo amanteigado, mel e nozes no interior), não fatiado, que vem a ser um bom naco macio e suculento, mais um vez este teve que ser comido para testar a sua macieza; a perna de cordeiro assada à moda da terra e servida na telha em que vai ao forno e o naco de novilho grelhado e laminado, que parece não terão sido experimentados; e termina dizendo aquelas iguarias que valem a viagem e a volta, na primeira oportunidade.
Muito devem comer estes críticos ou críticas! Ou será que mais estragam do que comem? Não me admira que, qualquer dia, ao ir a um desses restaurantes me sirvam um prato já foi provado por um deles ou uma delas. Por hoje já chega, estou cheio.